1. Comece pelo básico.
A primeira pergunta a ser respondida é com quais áreas você pretende trabalhar.
Essa é a pergunta mais importante de todo o processo de construção de um home-studio, pois essa resposta pode definir onde e como seu home-studio será construído, além é claro de definir quais equipamentos você precisa comprar.
Outra pergunta a se fazer é se você realmente precisa de um estúdio em casa. Hoje se tornou quase uma regra para profissionais do áudio terem seus estúdios em casa, mas será que é realmente necessário investir tanto? Muitas vezes a locação de um estúdio ainda compensa, principalmente para quem está começando. A maioria dos grandes produtores têm um home-studio em casa, mas grande parte dos trabalhos ainda são realizados em estúdios comerciais.
Se o seu orçamento estiver apertado, essas perguntas se tornam ainda mais importantes. Caso você escolha mais de uma área de atuação, é importante definir uma principal para não se perder na hora de fazer um projeto.
Eu costumo dividir os estúdios em duas categorias principais, “estúdios de áudio” e “estúdios musicais”. Dentro de cada categoria, temos diversas áreas.
Algumas das principais áreas são:
Estúdio de áudio:
- Gravação de locução
- Gravação de voz off ou voz over
- Gravação de dublagem
- Edição e/ou recuperação de áudio
- Sonoplastia (foley)
- Gravação e/ou transmissão de programas de rádio e/ou podcast
- Edição de programas de rádio e/ou podcast
Estúdio musical:
- Ensaios
- Gravação de vocais e/ou instrumentos
- Edição de músicas
- Mixagem
- Masterização
- Produção musical
- Produção de beats
- Produção de efeitos sonoros
- Produção de samples e loops
- Produção de trilhas sonoras
2. Definir prioridades:
Conheça bem as áreas em que você quer atuar, pois cada área exige um projeto diferente. tem muitos donos de home-studio por aí que não entendem o porque não conseguem entregar um resultado profissional, gastam uma fortuna comprando equipamentos na esperança de melhorar o resultado e na verdade o problema está no próprio home-studio.
Quando se fala em construir um home-studio, a primeira coisa que a maioria das pessoas pensa é no isolamento acústico, mas se você não for trabalhar com mixagem, por exemplo, talvez você nem precise se preocupar com isolamento acústico. Por isso é importante conhecer bem as áreas em que você quer atuar e definir suas prioridades de acordo com o que cada área exige.
3. Localização
A escolha da localização do seu home-studio também precisa ser pensada com cuidado. É claro que não estou falando da localização do imóvel, já que o estúdio será construído na sua própria casa, mas você pode escolher o melhor cômodo para abrigar seu estúdio de acordo com a localização dele dentro de sua casa.
O ideal é que o cômodo esteja localizado na região central de sua casa e que não faça divisa com vizinhos e nem com a rua. Escolha o cômodo que precisará do menor número de intervenções possível, assim você pode economizar em reformas e focar mais na compra de equipamentos.
4. Não subestime a importância do tratamento acústico.
O tratamento acústico é de extrema importância em quase todas as áreas de atuação. Enquanto o isolamento acústico tem a única função de impedir que som de fora entre na sala e que o som de dentro saia da sala, o tratamento acústico busca controlar as ondas sonoras dentro do ambiente, evitando que a sala seja muito grave ou muito aguda, tenha muita ou nenhuma reverberação e até mesmo problemas como cancelamento de fase e fadiga auditiva.
O ideal é contratar um engenheiro acústico para fazer um projeto específico de correção para o cômodo escolhido.
Você pode recorrer a um software de correção de salas. Estes softwares utilizam microfones para captar a resposta de frequência da sua sala e assim ajustar automaticamente a saída de seus monitores de referência para compensar os “defeitos” da sala. O ponto positivo é que pode economizar com projetos e materiais, mas o ponto negativo é que dificilmente o resultado final será igual ou superior a um bom tratamento acústico projetado por um engenheiro acústico e pensado especificamente para sua sala.
5. Energia.
Outro ponto importante é a parte elétrica, que muitas vezes é negligenciada ou até mesmo esquecida durante o projeto. Já imaginou você gastar uma fortuna comprando os melhores equipamentos e quando liga tudo começa a ouvir aquelas vozes do além ou aquele ruído branco que estraga qualquer gravação ou pior, já imaginou queimar todos os equipamentos novinhos?
Isso pode ser evitado fazendo algumas alterações simples no quadro de energia, isolando os pontos de energia do estúdio, fazendo um bom aterramento e calculando a quantidade de energia que será necessária para alimentar todo o sistema.
Outra alternativa é investir em um bom condicionador de energia, principalmente se você pretende trabalhar com gravações fora do seu estúdio. Um bom condicionador de energia, além de proteger os equipamentos de surtos na rede elétrica, também irão te entregar uma energia limpa, sem ruídos.
Use cabos de boa qualidade. O uso de cabos não adequados ou de baixa qualidade pode resultar em diversos problemas, inclusive podendo causar incêndios.
O ideal é contratar um engenheiro eletricista ou engenheiro elétrico, e de preferência que já tenha trabalhado com estúdios, para projetar a rede elétrica.
No caso de projetos de baixo orçamento, uma simples régua com fusível já pode ajudar muito na proteção dos equipamentos e, em alguns casos, um bom filtro de linha pode reduzir bastante os ruídos. Evite usar estabilizadores.
6. Computador.
Hoje em dia é quase impossível trabalhar com áudio sem usar um computador no meio do processo. Portanto, você precisa de uma boa máquina que suporte o trabalho.
Esse é mais um item que vai variar de acordo com sua área de atuação. Em teoria, para se trabalhar com áudio hoje em dia, você precisa de um computador com pelo menos 4GB de memória ram, um processador Intel i3 ou AMD similar e um HD de pelo menos 120GB. Mas isso não será suficiente para suprir a necessidade de todas as áreas de atuação. Um computador com essa configuração suporta trabalhos mais leves, como edição de áudio por exemplo. Novamente, é importante que você conheça bem a área de atuação que você escolheu seguir.
Eu sempre recomendo usar computadores da Apple para trabalhar com áudio. Apesar de serem mais caros, os computadores da Apple são excelentes máquinas e o sistema operacional facilita muito a vida dos profissionais do áudio. Raramente enfrento problemas para trabalhar e quando enfrento é simples e fácil de se resolver. Além disso, são computadores que duram muito sem perder tanto o seu desempenho, em 2022 eu ainda tinha um mac pro 2008 que aguenta o dia a dia do estúdio tranquilamente e sem grandes upgrades de hardware. O preço pode assustar um pouco, mesmo de um usado, mas vale cada centavo.
Mas como estamos falando da construção de um home-studio inteiro de uma vez só, vou levar isso em consideração e falar sobre computadores Windows e Linux.
Computadores com sistema operacional Linux são uma boa alternativa para quem quer investir em hardwares com mais eficiência. O único ponto negativo do Linux é que a maioria das distribuições não são nem um pouco amigáveis, mas já existem algumas que estão resolvendo está parte. Na minha experiência, quando se trata de áudio, o Linux está isolado na 2ª colocação, logo atrás do OSx.
O Windows, apesar de ser o mais popular, quando o assunto é trabalhar com áudio é definitivamente o pior sistema operacional dos 3. Uma licença do Windows não é nem um pouco barata e eu não recomendo usar licenças piratas, compartilhadas e etc. Também não recomendo usar a versão “gratuita”, pois a segurança também fica comprometida e muita coisa não funciona como deveria. Lembrando que essa é a minha opinião, baseada nas experiências que eu tive com cada sistema.
Até pouco tempo atrás, o Windows era necessário se você precisasse gerar códigos ISRC, já que o software só contava com versão para Windows, mas hoje já é possível gerar os códigos online.
Mas tudo vai depender do seu orçamento, existem grandes produtores e artistas trabalhando com os 3 sistemas operacionais. Inclusive, o ideal mesmo é ter os 3 sistemas disponíveis no seu estúdio.
7. Equipamentos caros não garantem bons resultados.
Mais importante do que comprar bons equipamentos é ter conhecimento. Os equipamentos não geram bons resultados sozinhos. Entre investir em equipamentos e investir em cursos, prefira investir em cursos. Com conhecimento, você pode chegar a bons resultados usando plugins gratuitos, enquanto sem o conhecimento, você pode ter uma cópia do abbey road que o resultado dificilmente vai ser bom.
É claro que bons equipamentos podem facilitar muito a sua vida, mas você precisa saber como, quando e onde usá-los.
E lembre-se que bons equipamentos nem sempre custam caro. Existem alternativas de baixo custo com ótimo custo/benefício.
8. O conforto tem que ser um aliado.
Nunca subestime a importância de uma boa cadeira, uma mesa adequada ou um ar condicionado silencioso. Esses itens, apesar de não serem prioridades, são de extrema importância, pois podem interferir diretamente na sua produtividade e na sua saúde física e mental. Mas lembre-se que, conforto demais também pode afetar negativamente a sua produtividade.
Se você for receber artistas e produtores no seu home-studio, você precisa pensar em oferecer algumas comodidades para eles também.